Bandas Cover: o mercado para elas morre acentuadamente nos EUA

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O rock chegou pra ficar, cantaram Danny & The Juniors mais de meio século atrás. Já os roqueiros do circuito de bares dos EUA não tem tanta certeza assim.

Entre os abatidos está STEVE BROWN, um guitarrista de 44 anos que toca classic rock pra viver.

Apesar de um flerte com a fama, Brown não recusa nem o mais deprimente dos shows. Num dia ele se apresentará em frente a milhares de pessoas com sua banda, o TRIXTER, cujos vídeos estiveram no topo das paradas da MTV no começo dos anos 90. No outro, ele vai estar com um colete amarelo de estampa de zebra mandando ‘I Wanna Dance With Somebody’ de Whitney Houston em uma festa nos Hamptons, ou cantando ‘Hotel California’ enquanto os fregueses olham os carros em uma concessionária em Nova Jérsei.

‘Nem todo show é naipe Madison Square Garden’, ele diz.

Brown está entre os muitos artistas de bandas cover que home em dia tem mais dificuldade de se sustentar. O problema é a falta de lucratividade de shows em bares [graças a DJs, noites de jogos musicais, karaokê, e mudança de gosto musical] combinada com um bando de músico de meia-idade que não tem como abandonar a cena.

“Se você dissesse que Steve Brown estaria vestindo calça de lycra, tocando uma guitarra rosa choque e verde e tocando músicas de Michael Jackson e Madonna três anos atrás, eu teria dito, ‘Nem fudendo’”, afirma o músico de Nova Jérsei. “A minha carreira meio que andou pra trás.”

Carla Russel, de 46 anos, costumava fazer 150 shows por ano com sua banda Kozmic Mama. Agora, ela faz metade disso, e os shows não são sempre tão bons assim. Em um casamento em Huntsville, Alabama, a plateia estava sóbria demais para dançar, já que não estavam servindo álcool. A vocalista decidiu pular ‘Sex Machine’ e ‘Let’s Get It On’. “Eles não teriam aproveitado”.

Bobby Lynch, um pianista de 32 anos, tem 12 modelos diferentes de apresentação – que variam desde um show solo até um duelo de pianos – para se adaptar a clientes como a empresa Ernst & Young, a montadora Maseratti e o Empire City Casino em Yonkers, Nova Iorque.

Ainda assim, de vez em quando ele canta canções natalinas em asilos no inverno. “Eu me sinto como se tivesse chegado à morte da cena de artistas cover”, ele diz.

Shows de bandas cover em bares começaram a ralear cerca de uma década atrás, quando o ramo musical bambeou e os donos de casas noturnas foram afetados pela recessão reduziram seus orçamentos, dizem os experts da indústria. Legislações mais duras sobre beber e dirigir e o custo de se ter um alvará para vender álcool também não ajudaram.

Sterling Howard, de 67 anos, dono da Musician’s Contact, uma agência de músicos, tem ajudado a roqueiros conseguirem shows por 40 anos, e ele nunca viu a coisa tão feia. Os jovens não vão tanto a bares na esperança de conhecer mulheres, ele diz, enquanto algumas pessoas preferem karaokês ou até o silêncio em detrimento de alguém tocando covers do Bad Company.

“As pessoas estão assistindo a seus próprios amigos embriagados, o que talvez seja mais divertido”, diz Howard.

De acordo com as estimativas de Howard, bandas de cover que tocam músicas que estão nas paradas de sucesso tiveram seu mercado de show encolhido em 80% nos últimos 15 anos. O desemprego entre músicos está subindo sensivelmente: foi para 9% ano passado, comparado com 5% em 2006, diz a National Endowment Of The Art, baseada em dados do governo dos EUA.

O pagamento também não acompanhou o tempo, dizem artistas e empresários. Uma banda que ganhava 800 dólares por show nos anos 80 não ganha muito mais do que isso hoje em dia. A inflação comeu o cachê.

Brook Hansen sabe disso. Tecladista com uma tatuagem do YES em seu braço, ele vivia bem, diz ele, tocando piano em Nashville, bases militares dos EUA na Europa e hotéis na China.

Ele se estabeleceu em Las Vegas em 1999, ganhando 700 dólares por semana em bandas de salão. Daí os donos de cassino cortaram os gastos depois do 11 de setembro.

Em um sábado recente, ele e um colega cantaram músicas tornadas famosas pelo grupo Survivor em um pequeno bar de um cassino. O fã mais entusiasmados parecia ser a esposa de Hansen. Hansen leva idosos de carro para consultas médicas para complementar sua renda. Ele espera sair do pais, talvez para o Bahrein, onde a demanda por músicos é alta. “É como Vegas 30 anos atrás”, ele diz.

Algumas bandas covers de rock ganham um bom dinheiro, especialmente aquelas dispostas a viver em navios ou tocarem em bandas tributo, imitando astros do rock.

Depois de engrossar o couro tocando em bandas cover de Nova Jérsei quando garoto, Brown fundou o grupo de pop metal Trixter aos 12 anos. Ele compunha a maioria do material, e excursionou pelo país com astros como o Poison e o Scorpions.

Quando aquele estilo de rock perdeu o fôlego, o guitarrista de cabelo armado voltou às suas raízes e deu início a uma sucessão de bandas cover, incluindo uma devotada a seu ídolo, Eddie Van Halen. Brown ainda tem aquele entusiasmo juvenil: “Você tem que ser como um octopus”, ele diz. “Suas mãos, seus tentáculos, pegam diferentes fontes de renda.”

Em uma dessas noites de sexta-feira, ele cozinhou jantar pra sua família, beijou sua esposa e seu filho e levou sua filha adolescente de carro para dormir na casa de uma amiga. Minutos depois, ele estava carregando seu equipamento de som para dentro da Elm Street Grill em Oakland, um bar esportivo em um shopping próximo dali.

“Vai ter karaokê?”, perguntou um homem de meia idade fumando fora do bar. “Não, é uma banda de rock”, respondeu Brown.

 

 

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