Um Ano Depois: Jeff Hanneman, o recluso deus da guitarra thrash

Slayer Portrait Session

Por Paul Elliot para a Metal Hammer

O guitarrista do SLAYER, JEFF HANNEMAN – que morreu no dia 2 de maio de 2013 aos 49 anos de idade – foi um dos músicos de metal mais influentes de sua geração. Pela maior parte dos 30 anos da banda, Hanneman foi o principal compositor do grupo. Sua faixa ‘Angel Of Death’ definiu toda a carreira do Slayer e selou sua reputação como a banda mais pesada e consistente da era thrash. Contudo, desde 201, Hanneman não pôde continuar a trabalhar com o Slayer devido ao seu quadro de saúde abalado. Ele tinha contraído fasciite necrosante, uma doença degenerativa do tecido humano, o que os médicos acreditam ter sido em decorrência da picada de uma aranha. Depois de uma longa batalha com a doença, ele eventualmente sucumbiu à falência hepática.

À época de sua morte, uma declaração no website da banda dizia: “O Slayer está devastado em informar que seu colega e irmão, Jeff Hanneman, faleceu às 11 da manhã perto de sua casa no Sul da Califórnia. Hanneman estava em um hospital da área quando ele sofreu falência hepática. Ele deixa uma esposa, Kathy, e seus irmãos Michael e Larry, e deixará muita saudade.”

O Slayer foi formado em 1981 em Los Angeles, com Hanneman e Kerry King nas guitarras, Dave Lombardo na bateria e Tom Araya no baixo e voz. A maior influência deles eram as bandas clássicas do Metal: BLACK SABBATH, JUDAS PRIEST, IRON MAIDEN. Mas Hanneman também era um fã de punk hardcore, e isso seria determinante para o desenvolvimento do Slayer.

Combinando o poder do metal com a velocidade do punk, o Slayer foi o pioneiro do thrash metal, junto com o METALLICA, MEGADETH e ANTHRAX. Mas o Slayer sempre foi a banda mais extrema do gênero, e para Hanneman isso era uma medalha de honra.

“Não éramos músicos instruídos”, ele disse, “mas sabíamos o que soava sombrio. Se soar como se eu estivesse em cima de um corpo que acabou de ser esfaqueado até a morte, então é perfeito.”

Quando o segundo álbum da banda, ‘Hell Awaits’ foi lançado em 1985, o jornalista GEOFF BARTON, da revista inglesa Classic Rock [então trabalhando para a Kerrang!] proclamou o Slayer como ‘a banda mais subversiva e ameaçadora do planeta’. No sucessor, ‘Reign In Blood’, a banda foi ainda mais longe, com ‘Angel Of Death’ criando uma grande controvérsia e levando a um debate a respeito de arte e censura. Hanneman escreveu a música após ler vários livros sobre Josef Mengele, o mais infame de todos os criminosos de guerra nazistas, chamado de Anjo da Morte pelos detentos do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.

 

O tema era tão delicado que a Columbia Records, distribuidora do selo do Slayer, o Def Jam, recusou-se a lançar o álbum. No fim, isso forçaria Rick Rubin – o produtor de Reign In Blood e cabeça da Def Jam – a achar novos distribuidores. Mas Hanneman nunca sentiu a necessidade de se desculpar por Angel Of Death.

“É apenas como um documentário na TV”, ele disse. “Eu achei que as pessoas ficaram incomodadas porque a letra não diz que Mengele era um filho da puta maligno. Mas e daí?”

Angel Of Death também era, musicalmente, a declaração definitiva do Slayer e a obra-prima de Jeff Hanneman, seu brilhantismo como arranjador ilustrado pela abrupta mudança da faixa de velocidade alucinante para um riff lento e pesado. E isso em um álbum que é unanimemente louvado como pináculo do thrash metal, com outro clássico de Hanneman que o encerrava – ‘Raining Blood’.

Ele ainda cunharia muitas das canções seminais do catálogo do Slayer, incluindo ‘South Of Heaven’, ‘War Ensemble’, ‘Seaons In The Abyss’ e ‘World Painted Blood’. Sua morte deixa o futuro da banda em dúvida. Durante os últimos anos, o Slayer tem tocado com Gary Holt do EXODUS, e depois com Pat O’Brien do CANNIBAL CORPSE o substituindo, mas sempre esperou que Jeff se recuperasse e voltasse à banda.

O futuro do Slayer é ainda mais complicado pela saída de Dave Lombardo em uma disputa que permanece sem solução. No momento, espera-se se que a banda cumpra seus compromissos de turnê já firmados, mas a ausência do entrosamento quase que telepático entre Jeff e King fará com que o Slayer nunca mais soe da mesma maneira.

Na última vez que falei com Hanneman, em 2009, ele explicara que ‘Angel Of Death’ fora composta num cenário bem improvável – na casa dos pais de sua namorada. Ele ria da natureza bizarra de seu processo criativo. “É estranho. Quando estou com raiva, a música não flui.mas quando estou feliz, o mal se pronuncia!”

Nosso primeiro encontro,em Los Angeles, 1988, para uma capa da [revista bretã] Sounds, foi memorável pelo que aconteceu depois de eu ter entrevistado Jeff com Kerry King e Tom Araya. Fomos de volta para o hotel no carro de Jeff, com ‘Fiareis Wear Boots’ do Black Sabbath rolando no som e todos nós 4 batendo cabeça igual à famosa cena de ‘Bohemian Rhapsody’ em ‘Quando Mais Idiota Melhor’. É desse modo que Jeff deveria ser lembrado: não só como uma figura-chave de uma das maiores bandas da história, mas também como um fã da música à qual ele dedicou tantos anos de sua vida.

 

 

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